VOCÊ PRIMEIRO
2022Políptico. Rochas de Quartzito Micaceo, água benta e vinho canônico sobre papel.
Após coletar uma rocha no Rio das Almas, em Pirenópolis, Goiás, Ramos estabelece uma metodologia em torno desse objeto: Ele parte a pedra em duas, após isso, usando água benta e vinho canônico ele pinta a representação de uma das partes, enquanto a outra ele armazena em seu ateliê.
O artista segue repetindo essa ação consecutivamente, sempre a parte da rocha representada na pintura é novamente partida em dois pedaços, enquanto a parte não pintada é sempre armazenada. Ao final, a obra apresenta as pinturas junto as partes guardadas durante o processo, cada pedaço de rocha corresponde a um pedaço ausente em cada pintura.
Nessa obra, Ramos dá continuidade à sua poética baseada na investigação de iconografias religiosas, desde a referência a ideia de pedra angular ou aos frequentes episódios de apedrejamentos em passagens bíblicas, até o uso de água benta e vinho canônico, como se as rochas passassem a ocupar o espaço de representação dedicado aos santos.
Em paralelo, o artista lida com essas referências dentro do contexto de violência histórica do Brasil, recolhendo a rocha em um dos principais rios de extração aurífera em Goiás no período colonial. Desembocando num inevitável diálogo tanto com as lógicas neocoloniais de extrativismo na atualidade, quanto com a permanência do apedrejamento no cotidiano das cidades brasileiras como uma herança racista da colonização.